“Olá Guerreira,
Estou-te a escrever
porque sei que às vezes te esqueces de quem és!
Bem, escrevo-te de
2020, o ano da Pandemia, aquele que sobreviveste, o ano em que tudo o que podia
correr mal correu. Mas foi também o melhor, o ano que superaste todos os teus
medos, cresceste e viveste, gastaste demais e trabalhaste mais ainda, mas descobriste
quem és!
Amor da minha vida:
Vive, Hoje! Porque ontem estive lá eu e amanhã estará lá ela para resolver e
viver.
Tudo vai correr bem,
deixa fluir, mas sê feliz. Nós conquistamos o mundo e eu sei que tu és capaz.
Eu sou linda maravilhosa e fantástica e eu sei que tu és mais ainda… Se eu fui
capaz, tu és capaz de muito mais!
Com amor, Eu que sou
tu um bocadinho mais nova”
Escrevi este postal
de Natal, no dia 21/12/2020, para a Mariana dos Natais Futuros, uma lembrança
para mim mesma de quem eu era, de quem eu me tornei, do caminho percorrido e da
força que eu tenho para encarar o caminho que ainda virá!
As nossas dores só a
nós pertencem, só quem vive com elas sabe como se sente, a sua dimensão e o
quanto custa viver com elas, não cabe a ninguém julgar.
Como enfermeira
aprendi que a escala de medida de dor é pessoal e intransmissível, estava eu em
2009, no meu primeiro ano de enfermagem, eu inicialmente, no culminar dos meus
18 anos não entendia que como 0 significava sem dor e 10 a pior dor que já
sentiu, porque eu sabia que a dor de um 7 para alguém poderia ser apenas um 2
para outra pessoa, depois compreendi e hoje compreendo melhor ainda, temos de
cuidar as necessidades de cada um.
Durante este ano
confesso que senti as dores sufocantes e limitantes do 9 e do 10, mas fui
aprendendo a classifica-las abaixo da minha dor, não por me desvalorizar ou
desvalorizar a minha dor, mas sim porque fui aprendendo a lidar com elas e
claro, a dor foi melhorando com as devidas estratégias e aprendizagens. Tive momentos
em que vacilei e julguei que não era capaz, mas aquele instinto de
sobrevivência animal surgia ao de cima e eu lutava mais um pouco, sempre mais
um bocadinho que no dia anterior, até que a frequência das minhas vacilações ia
diminuindo.
O estigma da dor é
inato, mesmo no mundo da medicina, todos nós já ouvimos da boca de algum
profissional de saúde algo como “Doente x disse que estava cheio de dor e a
seguir levantou-se e foi fumar… Não devia de ter assim tanta dor assim...”
Errado, só porque o doente ao lado estava a ganir com dor 5, não significa que
a dor seja maior que a do doente que foi fumar com uma dor 7, mas muitas vezes
tendemos a valorizar a dor de quem está a mostrar mais sofrimento e a
desvalorizar a de quem não o mostra.
O mesmo acontece com
outras situações. Vamos analisar términos de relações, há pessoas que dois dias
depois do término estejam na cama com outra pessoa, temos também o exemplo de
quem passado um mês ainda esteja na cama enrolado nos cobertores, a comer
gelado e a chorar enquanto vê comédias românticas, no Netflix.
Perante a sociedade o
fumador e o “garanhão”, não estão em sofrimento, os opostos sim, pobrezinhos,
em dor e tristeza profunda, mas é apenas uma crença limitante, um conceito
completamente distorcido da realidade, são apenas estratégias diferentes e
torna-se frustrante quando poucos são os que parecem compreender isto, o Coping
é diferente de pessoa para pessoa, a maneira como cada pessoa lida com a sua
vida só a si lhe pertence.
A sociedade gosta de
criar listas de fases, no entanto nem todos seguimos as mesmas fases de régua e
esquadro ou até de forma cronológica, a realidade é que não existem certos nem
errados, existem caminhos, rotundas, entroncamentos, bifurcações e tal como no
GPS, quando não seguimos o caminho estipulado ele recalcula um novo caminho, na
estrada da vida todos conduzimos às escuras, guiados pelos faróis, sim só vemos
a distância iluminada pela capacidade e qualidade dos nossos faróis, no entanto
com a certeza de que enquanto andarmos o caminho se iluminará à medida que
avançamos. O problema é que muitas vezes nos esquecemos de andar; aparcamos,
ligamos os quatro piscas e ficamos ali a pensar no caminho que ainda não
conseguimos ver, no meio da incerteza. E eu, agora, pergunto-te o que é melhor:
Arrancar e seguir em frente deixando o caminho aparecer naturalmente, ou
aparcar e pensar no que o caminho será?
Ambos são necessários
e em algum ponto da tua viagem vais aparcar mesmo que seja apenas para
descansar porque te dói a perna esquerda de fazeres ponto de embraiagem, mas a
algum ponto da tua viagem vais sentir que o GPS está a recalcular o teu
caminho, vais querer voltar para trás, outras vezes vais encontrar um novo
caminho até chegares onde estiveste no passado e achaste que viraste no lugar
errado. E tudo isso é válido, normal, natural, o que lhe quiseres chamar. Não
foi um erro, foi uma aprendizagem! Mas mais à frente eu irei elaborar melhor
este conceito.
O meu sonho mais bem
escondido, desde os meus tempos de criança sempre foi o mesmo, Escrever Um
Livro, talvez desde aquelas idas ao supermercado em que a mamã me comprava um
livro da Anita, livro esse que assim que eu chegava a casa me transportava para
um maravilhoso mundo da imaginação guiada.
Ao crescer e me
tornar mulher sonhadora e romântica eu achava que ia escrever um romance, uma
grande história de amor, talvez um dia, talvez noutra vida, quem sabe, mas hoje
não é ainda o momento para tal coisa.
Quando eu escrevi
aquele postal, eu percebi que não era de todo um romance, esse livro que eu
escreveria, mas sim um manual de sobrevivência, um manual onde tudo fosse
permitido, um manual sem regras, mas sim um manual de aceitação aos desafios da
vida, um manual com algumas das minhas estratégias e sugestões… Na minha cabeça
chamei-lhe o Manual de Sobrevivência Para Gatos Domesticados que Sem Aviso
Tiveram de Encarar o Mundo Sozinhos.
Trocado por miúdos,
nós humanos vivemos a vida muito focados e dependentes das nossas relações, dos
nossos medos e crenças limitantes, tal como o gato caseiro, completamente
domesticados e depois quando perdemos essa nossa bagagem confortável e
enfrentamos o mundo temos tendência a vacilar. É normal, estou apenas a fazer uma
constatação e não uma crítica.
A minha gata reside
no apartamento, não vai à rua, tem comida e cama ilimitada, mas se um dia ela
se encontrasse perdida no mundo ela também teria dificuldades em se readaptar.
É natural! Tal como um animal que fica anos no zoo e é novamente libertado no
seu habitat natural, fica fragilizado, perdido, e mesmo que no papel
pertencesse ao topo da cadeia alimentar, poderia facilmente ser derrotado por
outro animal supostamente mais fraco.
Este livro é de mim
para ti, para te mostrar que está tudo bem, com uma grande pitada da minha
história, se te motivar e de certa forma guiar, então parte do meu objetivo
estará cumprido.
Gostei de ler. Deixando votos de um
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Feliz Ano de 2021
Saudações poéticas