Friday, 1 January 2021

Livro: O Caminho da Independência - Prefácio

 

“Olá Guerreira,

Estou-te a escrever porque sei que às vezes te esqueces de quem és!

Bem, escrevo-te de 2020, o ano da Pandemia, aquele que sobreviveste, o ano em que tudo o que podia correr mal correu. Mas foi também o melhor, o ano que superaste todos os teus medos, cresceste e viveste, gastaste demais e trabalhaste mais ainda, mas descobriste quem és!

Amor da minha vida: Vive, Hoje! Porque ontem estive lá eu e amanhã estará lá ela para resolver e viver.

Tudo vai correr bem, deixa fluir, mas sê feliz. Nós conquistamos o mundo e eu sei que tu és capaz. Eu sou linda maravilhosa e fantástica e eu sei que tu és mais ainda… Se eu fui capaz, tu és capaz de muito mais!

Com amor, Eu que sou tu um bocadinho mais nova”

 

Escrevi este postal de Natal, no dia 21/12/2020, para a Mariana dos Natais Futuros, uma lembrança para mim mesma de quem eu era, de quem eu me tornei, do caminho percorrido e da força que eu tenho para encarar o caminho que ainda virá!

 

As nossas dores só a nós pertencem, só quem vive com elas sabe como se sente, a sua dimensão e o quanto custa viver com elas, não cabe a ninguém julgar.

Como enfermeira aprendi que a escala de medida de dor é pessoal e intransmissível, estava eu em 2009, no meu primeiro ano de enfermagem, eu inicialmente, no culminar dos meus 18 anos não entendia que como 0 significava sem dor e 10 a pior dor que já sentiu, porque eu sabia que a dor de um 7 para alguém poderia ser apenas um 2 para outra pessoa, depois compreendi e hoje compreendo melhor ainda, temos de cuidar as necessidades de cada um.

Durante este ano confesso que senti as dores sufocantes e limitantes do 9 e do 10, mas fui aprendendo a classifica-las abaixo da minha dor, não por me desvalorizar ou desvalorizar a minha dor, mas sim porque fui aprendendo a lidar com elas e claro, a dor foi melhorando com as devidas estratégias e aprendizagens. Tive momentos em que vacilei e julguei que não era capaz, mas aquele instinto de sobrevivência animal surgia ao de cima e eu lutava mais um pouco, sempre mais um bocadinho que no dia anterior, até que a frequência das minhas vacilações ia diminuindo.

O estigma da dor é inato, mesmo no mundo da medicina, todos nós já ouvimos da boca de algum profissional de saúde algo como “Doente x disse que estava cheio de dor e a seguir levantou-se e foi fumar… Não devia de ter assim tanta dor assim...” Errado, só porque o doente ao lado estava a ganir com dor 5, não significa que a dor seja maior que a do doente que foi fumar com uma dor 7, mas muitas vezes tendemos a valorizar a dor de quem está a mostrar mais sofrimento e a desvalorizar a de quem não o mostra.

O mesmo acontece com outras situações. Vamos analisar términos de relações, há pessoas que dois dias depois do término estejam na cama com outra pessoa, temos também o exemplo de quem passado um mês ainda esteja na cama enrolado nos cobertores, a comer gelado e a chorar enquanto vê comédias românticas, no Netflix.

Perante a sociedade o fumador e o “garanhão”, não estão em sofrimento, os opostos sim, pobrezinhos, em dor e tristeza profunda, mas é apenas uma crença limitante, um conceito completamente distorcido da realidade, são apenas estratégias diferentes e torna-se frustrante quando poucos são os que parecem compreender isto, o Coping é diferente de pessoa para pessoa, a maneira como cada pessoa lida com a sua vida só a si lhe pertence.

 

A sociedade gosta de criar listas de fases, no entanto nem todos seguimos as mesmas fases de régua e esquadro ou até de forma cronológica, a realidade é que não existem certos nem errados, existem caminhos, rotundas, entroncamentos, bifurcações e tal como no GPS, quando não seguimos o caminho estipulado ele recalcula um novo caminho, na estrada da vida todos conduzimos às escuras, guiados pelos faróis, sim só vemos a distância iluminada pela capacidade e qualidade dos nossos faróis, no entanto com a certeza de que enquanto andarmos o caminho se iluminará à medida que avançamos. O problema é que muitas vezes nos esquecemos de andar; aparcamos, ligamos os quatro piscas e ficamos ali a pensar no caminho que ainda não conseguimos ver, no meio da incerteza. E eu, agora, pergunto-te o que é melhor: Arrancar e seguir em frente deixando o caminho aparecer naturalmente, ou aparcar e pensar no que o caminho será?

Ambos são necessários e em algum ponto da tua viagem vais aparcar mesmo que seja apenas para descansar porque te dói a perna esquerda de fazeres ponto de embraiagem, mas a algum ponto da tua viagem vais sentir que o GPS está a recalcular o teu caminho, vais querer voltar para trás, outras vezes vais encontrar um novo caminho até chegares onde estiveste no passado e achaste que viraste no lugar errado. E tudo isso é válido, normal, natural, o que lhe quiseres chamar. Não foi um erro, foi uma aprendizagem! Mas mais à frente eu irei elaborar melhor este conceito.

 

O meu sonho mais bem escondido, desde os meus tempos de criança sempre foi o mesmo, Escrever Um Livro, talvez desde aquelas idas ao supermercado em que a mamã me comprava um livro da Anita, livro esse que assim que eu chegava a casa me transportava para um maravilhoso mundo da imaginação guiada.

Ao crescer e me tornar mulher sonhadora e romântica eu achava que ia escrever um romance, uma grande história de amor, talvez um dia, talvez noutra vida, quem sabe, mas hoje não é ainda o momento para tal coisa.

Quando eu escrevi aquele postal, eu percebi que não era de todo um romance, esse livro que eu escreveria, mas sim um manual de sobrevivência, um manual onde tudo fosse permitido, um manual sem regras, mas sim um manual de aceitação aos desafios da vida, um manual com algumas das minhas estratégias e sugestões… Na minha cabeça chamei-lhe o Manual de Sobrevivência Para Gatos Domesticados que Sem Aviso Tiveram de Encarar o Mundo Sozinhos.

Trocado por miúdos, nós humanos vivemos a vida muito focados e dependentes das nossas relações, dos nossos medos e crenças limitantes, tal como o gato caseiro, completamente domesticados e depois quando perdemos essa nossa bagagem confortável e enfrentamos o mundo temos tendência a vacilar. É normal, estou apenas a fazer uma constatação e não uma crítica.

A minha gata reside no apartamento, não vai à rua, tem comida e cama ilimitada, mas se um dia ela se encontrasse perdida no mundo ela também teria dificuldades em se readaptar. É natural! Tal como um animal que fica anos no zoo e é novamente libertado no seu habitat natural, fica fragilizado, perdido, e mesmo que no papel pertencesse ao topo da cadeia alimentar, poderia facilmente ser derrotado por outro animal supostamente mais fraco.

Este livro é de mim para ti, para te mostrar que está tudo bem, com uma grande pitada da minha história, se te motivar e de certa forma guiar, então parte do meu objetivo estará cumprido.


1 comment:

  1. Gostei de ler. Deixando votos de um
    .
    Feliz Ano de 2021
    Saudações poéticas

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Saudações Negras